Jairo Scholl Costa (*)
Alguém consegue imaginar os pomeranos sem a batata? Este é um pensamento praticamente impossível, mas, este povo e a batata são historicamente conhecidos de pouco tempo.
Até 1590, a Europa não conhecia a batata. Ela chegou da América do Sul, mais especificamente do Equador, e de imediato não fez sucesso no Velho Continente. Os europeus a consideraram sem graça, alguns até medo tinham dela. Para complicar a Igreja Ortodoxa dizia que o tubérculo não estava na Bíblia. Enfim, grande era a oposição, e os povos continuavam se alimentando de trigo e centeio, cujas produções não eram suficientes para suprir o crescimento populacional.
A Irlanda foi um dos primeiros países a cultivar a batata, que se conheceu como batata-inglesa, porque a Inglaterra dominava aquele país.
Em 1740, a batata chegou ao Reino da Prússia, onde a Pomerânia era uma província, não havia meio de se convencer os aldeões a cultivarem a batata. O rei Frederico IV, da Prússia, que conhecia as qualidades da batata e seu poder energético, se exasperava com a indiferença do povo em relação ao novo cultivar.
Nem com ameaças o povo plantava a batata, então, o rei arquitetou um plano. Decidiu plantar as batatas ao redor do castelo de Sans-Souci, cercou as plantações e postou uma guarda reforçada. Em seguida o povo começou a desconfiar. Devia ser algo muito bom esta tal de batata, pois o rei a queria só para si e a guardava com enorme segurança.
A guarda instruída por Frederico IV relaxava à noite, permitindo que os camponeses colhessem as batatas, que eram consumidas em casa e logo começaram a plantar. Dali em diante, a batata foi se popularizando e ganhando todas as formas e receitas de cozimento que as tornaram marca da Alemanha.
Na Pomerânia, Frederico IV diretamente se empenhou em fornecer as batatas ao povo e incentivou a planta-las. O resultado foi que a Pomerânia se tornou o maior produtor de batatas de todos os Estados Germânicos, cuja reputação atravessou a Europa.
Quando os imigrantes pomeranos aportaram em 1858 na Serra dos Tapes em São Lourenço do Sul, imediatamente passaram a plantar batatas, usando sua expertise neste cultivo, que se desenvolveu prodigiosamente. A produção era tanta, que a Colônia de São Lourenço ficou famosa no Brasil inteiro. O porto de São Lourenço as exportava para o Rio de Janeiro e Montevidéu. A riqueza que o cultivo da batata foi tanto, que proporcionou junto com outras atividades oriundas da pequena propriedade rural alemã-pomerana o surgimento do Município de São Lourenço do Sul.
No ano de 1956, São Lourenço do Sul obteve o galardão de maior produtor de batata-inglesa da América do Sul, e, sua importância no desenvolvimento deste município permanece para a posteridade, tanto, que na heráldica deste município, os tubérculos da batata-inglesa se acham fazendo parte da composição do brasão.
(*) Advogado, escritor e historiador.
**Colaboração de Rodrigo Seefeldt, Acadêmico do Curso de Desenvolvimento Rural PLAGEDER- UFRGS.
Foto “150 Anos da Imigração Alemã-Pomerana em São Lourenço do Sul 1858-2008. Cartilha elaborada pela Comunicar Brasil. Porto Alegre, 2008.”